Você alguma vez já se deparou com o termo “exame de rastreio” ou “exames de rastreamento”, ou ainda exame de “screening”? O que significa dizer que um exame serve para rastrear algo? Porquê algumas pessoas precisam fazer estes exames e outras não? Vamos tentar explicar nos próximos parágrafos!
O que são exames de rastreamento?
Os exames de rastreamento servem como triagem para determinadas doenças e têm um caráter preventivo. Estes exames são o que chamamos de prevenção secundária. Ou seja, detectam determinadas patologias ou alterações em seu estágio inicial, antes de o indivíduo apresentar sinais ou sintomas. Ou seja, é possível realizar um exame de rastreamento de câncer, um exame de rastreamento genético, exame de rastreamento de ovulação, entre outros tipos.
O objetivo do rastreamento de doenças é justamente a detecção precoce. Sendo assim, é possível iniciar um tratamento efetivo e com grande chance de cura ou controle da doença no seu estágio inicial.
É importante esclarecer que exames de rastreamento não são diagnósticos. O seu propósito é detectar alterações que, uma vez presentes, serão necessários exames adicionais para o diagnóstico de certeza da doença. Um exame clássico é a mamografia (vamos falar melhor dela mais abaixo). A mamografia é um exemplo de exame de rastreamento. Quando é detectada alguma alteração nela, como por exemplo um nódulo, exames adicionais como ultrassonografia e biópsia de mama irão determinar se aquela alteração trata-se de um cisto, de um nódulo benigno ou maligno.
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Quem faz exames de rastreamento
Exames de rastreamento são realizados em pacientes que apresentam maior probabilidade de ser afetado por determinada doença e que se beneficiará da descoberta precoce desta doença. Vários fatores são levados em consideração ao escolher quais pacientes devem ser submetidos a eles. Portanto, entre estes podemos citar idade, sexo e história familiar.
- SEXO: os homens não correm risco de câncer de colo uterino, pois não possuem útero. Desta forma, não se beneficiam de exame de rastreamento para câncer de colo uterino. Da mesma forma exames de rastreamento para câncer de próstata não são feitos em mulheres.
- IDADE: mulheres sem fatores de risco com idade abaixo de 40 anos não apresentam risco para câncer de mama que justifique realização de mamografia para rastreio. É por isso que o rastreamento de câncer de mama se inicia aos 40 anos.
- HISTÓRIA FAMILIAR: mulheres com parentes de primeiro grau que tiveram câncer de mama apresentam maior risco de desenvolver este tipo de câncer, desta forma, neste grupo específico, o rastreamento deve se iniciar antes dos 40 anos.
Exemplos de exames de rastreio
Veja abaixo alguns exemplos de exames de rastreamento e quem se beneficia deles:
- MAMOGRAFIA: O câncer de mama é um dos mais prevalentes nas mulheres. Portanto, a sua detecção precoce permite que as mulheres tenham uma sobrevida próximo a 90% nos cinco anos seguintes. A mamografia tem o objetivo de detectar precocemente as alterações mamárias que possam estar relacionadas a um câncer. Permitindo uma busca ativa por um diagnóstico de câncer e a realização de um tratamento e com grandes chances de cura. Desta forma, a mamografia é realizada em mulheres assintomáticas, em uma faixa etária em que haja um balanço favorável entre benefícios e riscos da realização deste exame. No Brasil, a Sociedade Brasileira de Mastologia e o Colégio Brasileiro de Radiologia recomendam a realização anual de mamografia para mulheres a partir dos 40 anos como exame de rastreamento para câncer de mama, visando seu diagnóstico precoce e reduzindo a mortalidade por este câncer.
- PAPANICOLAU: também conhecido como citologia cervical, é um exame onde são coletadas células do colo uterino. O exame visa detectar alterações que possam estar relacionadas a câncer de colo uterino. As mulheres que se beneficiam deste tipo de exame preventivo são aquelas com idade entre 25 e 64 anos e que já iniciaram atividade sexual. É importante salientar que a faixa etária não significa impossibilidade de realização do exame em mulheres jovens ou velhas. Uma anamnese adequada irá reconhecer fatores de risco potenciais que possam indicar o rastreamento nestas outras mulheres.
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Doenças que podem se beneficiar de rastreamento
Vários fatores precisam ser avaliados ao tomar uma decisão sobre o rastreamento de uma doença. Algumas perguntas que devem ser feitas para esta tomada de decisão são:
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Existe algum exame de triagem disponível?
Para algumas doenças pode não haver um teste disponível que seja adequado para a triagem. Por exemplo, para o teste de rastreio do cancro do intestino, a amostra fecal é retirada pelo paciente em casa e enviada para o laboratório gratuitamente, tornando-a altamente acessível. Dessa forma, o teste é oferecido a todos aqueles com mais de 50 anos e não depende de sintomas – já que o câncer de intestino geralmente não apresenta sintomas no estágio mais precoce e mais tratável.
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A doença é comum na população geral?
Rastrear um grande número de pessoas para uma condição que é rara na população geral não traria grandes benefícios. Desta forma, o rastreio de uma determinada patologia é muitas vezes oferecido a uma parcela específica da população com base em determinados fatores de risco – por exemplo, idade.
Dito isto, podemos exemplificar a triagem neonatal que é oferecida para todo bebê recém-nascido. Embora detecte condições relativamente raras, a detecção precoce e o tratamento podem salvar vidas e permitir que as crianças levem uma vida normal.
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Qual a gravidade da patologia?
Os exames de rastreamento geralmente são focados em condições que podem ser fatais ou ter impactos muito sérios sobre a saúde, como deficiências físicas e mentais graves, se não forem tratadas. No entanto, a triagem pode ser mais ampla do que isso. Por exemplo, exames de rastreamento de doenças infecciosas passíveis de serem transmitidas a outras pessoas (por exemplo, rastreamento de tuberculose para imigrantes) ou rastreamento genético de futuros pais para saber se estão carregando um gene associado a uma doença grave que pode ser transmitida a uma criança.
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A condição pode ser tratada? E a detecção precoce faz alguma diferença?
Algumas doenças graves não têm cura e apresentam opções limitadas de tratamento. Portanto, é improvável que sejam candidatas a um programa de rastreio. Sendo que há pouco benefício em obter um diagnóstico precoce. Todas as condições incluídas nos programas de triagem neonatal se beneficiarão da detecção precoce. Possibilitando tratamento mais eficaz no estágio inicial, daí a decisão de rastrear logo após o nascimento.
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Custo benefício
Em síntese, o custo de fornecer um programa de rastreamento é balanceado contra os benefícios de se detectar a doença em um estágio precoce ou impedir que ela se desenvolva. Dessa forma, o benefício para o paciente é claro, mas os benefícios econômicos também são observados. Isso inclui:
- o custo de tratar uma doença como por exemplo um câncer em um estágio mais tardio;
- o custo para a economia de uma enfermidade ou deficiência de uma pessoa resultante de uma doença não tratada.
Esses custos podem variar. Por exemplo, existe o impacto econômico da perda de produtividade em relação ao tempo de afastamento do indivíduo, perda de produtividade dos membros da família que atuam como cuidadores ou ainda o custo dos serviços de suporte a deficiências.
Em resumo, é importante saber quais são os exames de rastreamento e os benefícios de sua realização. Mamografia para mulheres acima de 40 anos, papanicolau para mulheres entre 25 e 64 anos com vida sexual iniciada, exames de HIV e hepatites virais para doadores de sangue; todos são exemplos de exames de rastreamento pois os benefícios de detecção precoce de uma alteração superam os custos de realização dos exames, assim como permitem um tratamento e intervenção efetivos.
muito legal, tirou todas minhas dúvidas